E como se isso não bastasse, no tempo da colheita tão esperada, os midianitas se aliavam aos amalequitas, bem como aos outros povos do Oriente, e destruíam tudo o que restava em Israel: o produto da terra, as ovelhas, os bois e até mesmo os jumentos, mercadoria de valor irrisório. O objetivo deles era eliminar Israel definitivamente, pela espada e pela fome.
O fato de Gideão estar malhando o trigo no lagar era um sinal evidente do desespero reinante naqueles dias. O Anjo do Senhor não se dirigiu àqueles que estavam escondidos nas covas e cavernas! Mas, sim, àquele que arriscava toda a sua vida por um punhado de trigo.
Malhar trigo no lagar, hoje em dia, significa trabalhar muito para conquistar um mísero salário, ou vender o almoço para comprar o jantar, ou ter de aturar a amante do marido por não ter para onde ir. Enfim, malhar trigo no lagar significa: vergonha, medo, humilhação, necessidade e desespero!
Quando o Anjo apareceu e amavelmente saudou Gideão, dizendo: “O Senhor é contigo, homem valente”. Imediatamente, cheio de revolta, humilhação e dor, ao invés de se inclinar com o rosto em terra e lhe dar glórias e aleluias, Gideão respondeu: “Ai, Senhor meu! Se o Senhor é conosco, por que nos sobreveio tudo isto? E que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Porém, agora, o Senhor nos desamparou, e nos entregou nas mãos dos midianitas.” (Juízes 6.12,13).
Em princípio, o Anjo lhe dirigiu seis palavras, mas Gideão lhe respondeu com cinqüenta. O que significa dizer a condição de seu coração: demasiadamente aflito. E então mostrou sua audácia e até um temperamento de revolta perante o Senhor.
A aparição do Senhor na sua chamada mostra que Gideão tinha algo diferenciado dos seus compatriotas que viviam nas cavernas. Porque o coração dele palpitava de acordo com Deus. Sua profunda expressão de revolta e indignação na realidade era a de Deus!
No diálogo com o Anjo, Gideão manifestou o que Deus tinha no coração: revolta e indignação pela calamidade imposta pelos inimigos ao seu povo. Por isso Deus veio pessoalmente até ele!
Aos olhos de Gideão, não era admissível aceitar a crença num Deus tão poderoso e viver oprimido pelos inimigos. Como era possível crer num Deus todo-poderoso e viver nos limites do desespero e da dor?
Só mesmo uma fé passiva e destituída de inteligência pode combinar a crença em Deus com fome, miséria, dívidas, doenças, lares destruídos, enfim, desgraça total! Mas a fé viva no Deus de Abraão e Gideão não aceita o fracasso em hipótese nenhuma, ela está sempre acompanhada de coragem e revolta.
Bispo Edir Macedo
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